17.4.12

origem

Em 'A une Passante', Baudelaire encanta-se por uma mulher que passa por si na rua mas num portentoso jamais reconhece a impossibilidade de um futuro reencontro. Benjamin revê nesta solução uma fórmula social da cidade moderna que é palco de uma flanerie activa de encontros & desencontros; e por isso lugar de desencantos, desilusão. O amor do poeta não foi assim à primeira vista, promissor na sua progressão a caminho de um objectivo, de uma conquista. Foi, ao contrario, à ultima vista, extático em si mesmo e pré-condenado, vítima de uma condição da nova velocidade dos tempos. Na leitura de Benjamin transparece uma percepção nítida do desapontamento que a modernidade trouxe no aniquilamento do indivíduo e dos seus prazeres. Essa sua desilusão leva-me para outro autor que também se deixou seduzir pelo lado perverso da multidão. Em 'America', Baudrillard dedica um capítulo (algures já transcrito por aqui) à análise da metrópole e aos seus fluxos, movimentos, velocidades. As considerações e receios de um encaixam nas desilusões e medos de outro. A cidade moderna, longe das Arcadas, como a máquina imparável e impessoal, colosso monstruoso perante a natureza humana. Entre os dois textos estão mais de cinquenta anos de diferença. Benjamin, por isso, será o pós-modernista original.