10.4.12

l'obsession de la ligne droite

Do Barão Haussmann, a notória obsessão pela linha recta e pelo culto do eixo fez com que, no século XIX, a cidade de Paris se transformasse na figura urbanística apoteótica aspirada por Napoleão III. Para a implantação das grandes avenidas idealizadas por Haussman, tecidos da cidade pós-medieval foram destruídos numa série de expropriações mais ou menos (in)justificadas. Haussmann o político, consciente do efeito colateral do seu projecto moderno e megalómano, auto intitulava-se com cínica vaidade de artist démolisseur. Numa série de ensaios sobre Baudelaire e a sua contemporaneidade, Walter Benjamin relata num pequeno texto as motivações de Haussman para além das estético-urbanistas   ou aquilo que foi apelidado de «embelezamento estratégico»: o urbanismo faustoso como corolário do Second Empire mas também como prevenção de uma guerra civil. O alargamento das ruas para largas avenidas impediria a construção de barricadas revolucionárias da mesma forma que o percurso entre os subúrbios do proletariado e os quartéis militares seria mais rápido e directo. Mas a medida mostrou-se ineficaz e durante a Comuna de Paris, no rescaldo da derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana, as barricadas tornaram-se mais fortes e seguras do que alguma vez tinham sido. Algo dramático e vagamente vingativo, Benjamin conclui: «the burning of Paris was the worthy conclusion of Haussmann's work of destruction».