15.9.12

notes from underground

Notas do Subterrâneo (Notes from Underground na versão inglesa) entre sarcasmo e confissão soa mais do que tudo a um elogio da derrota pessoal perante o colectivo a sociedade, num acto único e niilista. Não deve ser visto de todo como uma apologia à procrastinação, por um lado, ou à amargura individual, por outro. Como o próprio autor afirma, gostaria ele de ser chamado de preguiçoso, porque assim ao menos seria alguma coisa. E ser alguma coisa é (in)digno apenas dos homens banais. Quase o mesmo se poderá dizer que o autor aplicaria à tristeza ou à melancolia a mesma regra, se as pudesse sequer sentir. Sentimentos desses são fraquezas demasiado mundanas e mesquinhas.

A percepção da vitória pela derrota não é um conceito fácil de aceitar e não estará por isso ao alcance  dos que se crêem pessoas de ambição. É uma vitória de outra espécie. Menos declarada e cheia de ressentimento & desprezo pela escumalha alheia. Vence porque renega à partida noções platónicas como a felicidade, o amor, a verdade. Este entendimento antecipa assim problemas pela omissão, por uma inexistência. Previne a desilusão.

Em parte, Rohmer a isso dedicou o seu cinema. Contudo fê-lo de uma forma antagónica a estas notas de Dostoievski. Em Rohmer não há o grito da vitória da derrota na forma de um solilóquio interminável e explícito. Há, isso sim, um leve murmúrio entre todos aqueles actos falhados, subtis, onde afinal tão-pouco conforta muito.