3.11.12

the aftermath (2)

Foi dessa forma, sem querer ou pensar muito no assunto, que de repente me vi arrastado pela metrópole escura e vazia ou pelo menos pela parte dela que está nessas condições e que por três dias consecutivos esperei que a noite caísse para voltar a cruzar a ponte em tão solitárias incursões nocturnas, de bicicleta e câmara de grande formato, com um saco do tripé que ecoa ao de uma carabina, artilhado como um mercenário errante, sem grande rumo ou objectivo pessoal conhecido de antemão, apenas o de deambular e tirar chapas, que levam o seu tempo a montar o equipamento, a medir a luz ou a falta dela, a focar a lente, a ajustar a perspectiva, guiado pelo luar que escapa entre as nuvens espessas que cobrem a cidade, e só deixar-me voltar a casa, deixar-me a voltar a cruzar a ponte, depois dessa necessidade intrínseca e noctívaga satisfeita como uma amante exigente, voltar a casa, dizia eu, de rastos, com o peso adicional do cansaço às costas, para cair vestido na cama e só dar conta de mim mesmo nas primeiras horas da luz da manhã.