26.7.11

your car is ready

Deixo donwtown por três dias para uma viagem de trabalho à Cidade do México. Não voltava aqui desde 2005, ano em que atravessei o país durante um mês de mochila às costas. Agora as coisas são diferentes. Venho como «representante», de barba feita, fato-escuro, sapatos ingleses impecavelmente engraxados. «Gringo», chamaram-me eles à chegada. Mas rapidamente viram que estavam bem enganados.

22.7.11

the endless summer (2)

A temperatura que hoje se faz sentir combinada com os altos níveis de humidade e poluição torna este dia no mais sufocante do ano. Há no ar um filtro que transforma os contornos das silhuetas em manchas indefinidas, esbatidas. Pelos passeios, ao contrário do habitual turbilhão, as pessoas movem-se devagar. Os passos são lentos e ofegantes, em câmara-lenta. Como animais ao longe na savana. A logística da cidade também sofre as consequências do calor aterrador: linhas de metro paradas, aparelhos de ar condicionado avariados, máquinas de gelo estoiradas. Tudo derrete e é na subjugação do apparatus tecnológico humano que a cidade revela exactamente o que ela é. Um Inferno.

Refugio-me num cinema de esquina.
Porventura o Purgatório.

the endless summer

Pedalo noite dentro contra / o calor. / Pedalo noite dentro contra / a ausência / e a distância. / Contra o afastamento; / contra o pensamento. / Contra a memória. / Pedalo, / pedalo / por mim e por ti. 

uma bicicleta é como um cão

Faz companhia.

Tornei-me aos poucos num improvável coleccionador de bicicletas. A primeira porque é para ti, depois a segunda porque é para mim e agora a terceira apenas porque sim. Gosto de pasteleiras —ou cruisers, como lhes chamam por aqui— parecidas com as do Jacques Tati. 

10.7.11

le bonheur imprévu (3)

Comprei uma bicicleta. É clássica, confortável, estilo cruiser, dos anos 1970, preta e cromada, com selim de cabedal castanho, cesto, campainha. Percorri ontem com ela as ruas da cidade. Devagar, com calma, de passeio. Da actual casa em Bedford à anterior de Tompkins Square Park são cerca de trinta minutos, pela Williamsburg Bridge, no meio de toda uma multidão de outros ciclistas e peões domingueiros. Depois daí à West Village não chega a dez minutos mais. A ilha é pequena, transversalmente, e a minha parte da ilha ainda o é mais. Comprei uma bicicleta. É clássica e modelo de senhora. Para ti. Está à tua espera para quando chegares.

le bonheur imprévu (2)

A felicidade plena no universo das preocupações interiores rohmeriano nem sempre acontece. E quando acontece fá-lo de uma forma imprevisível e fugaz, subtil e simbólica — no joelho de Claire, no olhar de Pauline ou no efeito solar de um raio verde testemunhado por Delphine. Gostar de Rohmer para além da sua maturidade estética implica uma outra maturidade. Uma conseguida pelo peso amargo da derrota pessoal, da descoberta da impossibilidade, do fim da inocência. A frágil satisfação, o breve contentamento, o êxtase desmedido na sua proporção provam que Rohmer é território dos vencidos. Talvez por isso um dos meus favoritos.

6.7.11

le bonheur imprévu