27.9.12

leap of faith, leap to faith

Queixei-me dos sucessivos fracassos dos meus saltos de fé. Uns atrás dos outros; uns atrás de tantos outros. Agora, como Kierkegaard, o que preciso não será um salto de fé mas de um salto para a Fé. —Antes de exigir há que acreditar.

16.9.12

1951


Robert Rauschenberg with White Paint.
Robert Rauschenberg with white socks.

15.9.12

notes from underground

Notas do Subterrâneo (Notes from Underground na versão inglesa) entre sarcasmo e confissão soa mais do que tudo a um elogio da derrota pessoal perante o colectivo a sociedade, num acto único e niilista. Não deve ser visto de todo como uma apologia à procrastinação, por um lado, ou à amargura individual, por outro. Como o próprio autor afirma, gostaria ele de ser chamado de preguiçoso, porque assim ao menos seria alguma coisa. E ser alguma coisa é (in)digno apenas dos homens banais. Quase o mesmo se poderá dizer que o autor aplicaria à tristeza ou à melancolia a mesma regra, se as pudesse sequer sentir. Sentimentos desses são fraquezas demasiado mundanas e mesquinhas.

A percepção da vitória pela derrota não é um conceito fácil de aceitar e não estará por isso ao alcance  dos que se crêem pessoas de ambição. É uma vitória de outra espécie. Menos declarada e cheia de ressentimento & desprezo pela escumalha alheia. Vence porque renega à partida noções platónicas como a felicidade, o amor, a verdade. Este entendimento antecipa assim problemas pela omissão, por uma inexistência. Previne a desilusão.

Em parte, Rohmer a isso dedicou o seu cinema. Contudo fê-lo de uma forma antagónica a estas notas de Dostoievski. Em Rohmer não há o grito da vitória da derrota na forma de um solilóquio interminável e explícito. Há, isso sim, um leve murmúrio entre todos aqueles actos falhados, subtis, onde afinal tão-pouco conforta muito.

3.9.12

labor day, monday

Percorro o bairro de bicicleta numa rotina pessoal. Não encontro nada mais do que uma calmaria resoluta e ruas vazias, como se todos os moradores tivessem decidido sair da cidade neste fim-de-semana prolongado. Passo pelo parque, pela beira-rio, pelo diner de esquina: tudo deserto  «desertado», apetece dizer  , abandonado. Como um acto colectivo que servisse para nada mais do que acentuar a geografia da minha solidão. Uma atmosfera desfocada e sem detalhe proporcionada pelo estranho contraste entre os dias comuns e o dia de hoje, feriado nacional, na qual apenas o esforço das pedaladas me traz de volta à realidade. Não por muito tempo. A velocidade abranda até parecer que estou inerte, a flutuar, com o vento a esbarrar-me no focinho por barbear. Continuo sem dar conta. E aos poucos com a chegada do sol da manhã lá revejo outros lobos solitários que como eu passam discretos sem se anunciar. 




2.9.12


«I could not become anything; neither good nor bad; neither a scoundrel nor an honest man; neither a hero nor an insect. And now I am eking out my days in my corner, taunting myself with the bitter and entirely useless consolation that an intelligent man cannot seriously become anything, that only a fool can become something.» 

Leitura para um verão inexistente.
Directriz para uma vida extirpada.

followed them?


Um exemplo histórico.

in the end

«In the end, to become a leader, he followed them». É nesta passagem de tom quase bíblico que Gourevitch, no Talk of the Town da New Yorker, resume a escolha de Romney por Ryan. A estratégia não é nova e ecoa ao popular dito se não os podes vencer, junta-te a eles. Mas Romney, ao baixar-se tanto ao Tea Party, ficou também nele a faltar algum chá.