Uma das
short-stories que compõem 'Eleven Kinds of Loneliness', de Richard Yates, contrapõe a sensibilidade feminina com o generalizado e conhecido «egoísmo masculino». Em 'The Best of Everything', ambiente
corporate fifties nova-iorquino, acompanhamos Grace e Ralph na noite anterior à sua partida para a Pensilvânia, onde irão casar. Grace sofre um certo
estado de pânico. Indecisa, questiona-se por que razão casará com Ralph. Ao fim e ao cabo, nas suas palavras,
mal o conhece, sentimento de desafectação que flutua entre a impressão oposta e até compreensível
de que não poderia casar com Ralph por conhecê-lo bem demais. Mas o que interessa a Yates explorar não é realmente a luta interior de Grace mas sim um determinado machismo patente na sociedade e na tradição. Grace, independentemente do conflito da sua decisão, estará sempre pronta para Ralph, o homem, ou
the one who provides. Na noite em que elabora uma sedução para irem para a cama pela primeira vez, véspera da viagem e por conseguinte do casamento, Ralph descarta-a em prol dos seus amigos e da festa surpresa que estes lhe dedicaram; sabendo que no dia seguinte poderá reclamar o que já será seu «por direito». Este homem simples e simplório — "he says terlet", diz-nos ela — parece seguir uma velha máxima: o amor passa mas as amizades ficam. Assim, será sempre mais prudente e glorificante preservar a segunda em relação à primeira. A amizade, como o título sugere, é o melhor de tudo. A mulher não é mais do que um complemento lógico de uma cronologia predefinida. E Grace fica desde logo avisada: não poderá nunca contar verdadeiramente com o marido.
Casada mas sozinha; um de «onze tipos de solidão».