this photograph is my proof
O trabalho de Duane Michals (1932) começa por pôr em causa as próprias capacidades do meio que explora: reconhece a Fotografia como um reprodutor fiel da realidade mas considera-o igualmente incompleto. Nas célebres sequências, conjuntos de imagens que tentam repetir uma lógica cinematográfica de fotograma-a-fotograma, procurou criar uma narrativa visual que contasse uma história (provavelmente um magnum effect de Robert Capa e Cartier-Bresson) e que proporcionasse leituras paralelas — seja por objectivismo, seja por insinuação. 'Chance Meeting' (1970) por exemplo, preenche o requisito deixando no ar um propositado sentimento inconclusivo e de ameaça latente, produto de derivações casuais. Para o artista norte-americano a imagem singular não é suficiente para o seu fim. Esta precisa de elementos adicionais e é com base neste pressuposto que Michals se torna num pioneiro de foto-narrativas, trazendo dados complementares pessoais dos retratados ao observador. As suas fotografias legendadas, à semelhança do que poderíamos encontrar no verso de muitas fotografias de álbuns de família, acentuam a expressão barthesiana de duplo perene. Elas são nitidamente a taxidermia desse ter existido. Ou melhor, são a derradeira prova. Para os outros. Look, see for yourself.