30.4.10

Catherine Deneuve por Helmut Newton

29.4.10

A confiança é uma «construção».
Mas pelos vistos a desconfiança também. E bem mais rápida.

the aesthetics of a personal knowledge, (2)

Acredito que num determinado aspecto os descrentes nos outros sejam no fundo e inconscientemente —ou acima de tudo— descrentes deles mesmos. Como escreveu Protágoras, o homem é a medida de todas as coisas. Por conseguinte, consideremos que é o indivíduo (e as suas acções) que dá o mote e estabelece a fasquia de tudo o que o rodeia. Assim, como poderia ele acreditar nos demais aquilo que desconhece em si próprio?

28.4.10

the aesthetics of a personal knowledge

A formação de uma intimidade assenta no reconhecimento de pequenos desejos, trejeitos, defeitos, toques, tiques e requintes até ao ponto em que estes não deixam nada mais respirar, tornando-se estilhaços de um qualquer sublime cosidos na pele e no suor. 'Eu' é um outro, escreveu Rimbaud, ou chegar ao desconhecido através do desregramento de todos os sentidos.

27.4.10

a possibilidade de um futuro

Que aquilo que consideramos o «melhor» seja sempre encarado como o ponto de partida para algo que o supere. Se assim não for, inevitavelmente tudo se desmoronará, antevendo uma derrota final e pessoal —essa cunhada e medida no leito de morte— por inacção, estagnação e falta de espírito. A possibilidade de um futuro depende da capacidade de evoluir a partir do passado e não da entronização cega e absurda deste. Em parte, se não se tenta, nunca se há-de saber se se ganha ou se perde. A dúvida desta «possibilidade» amputada é um pesado remorso. Pior do que porventura o será um putativo fracasso.

20.4.10

modernidade e pós-modernismo



'Secretary at West German Radio, Cologne' (1931), por August Sanders.
'Ana Silva e Sousa', em 'A Idade da Prata' (1986), por Mário Cabrita Gil.

16.4.10

la mort du roman

Pode parecer absurdo (deixemos essa consideração a Camus) marcar uma data de término logo no início de uma relação; não obstante, a verdade é que inevitavelmente estas vêm já com prazo de validade — seja de trinta dias ou de trinta anos — sabendo que é exactamente pelo facto de ser (à partida) desconhecido que elas são estimulantes. Predefinir assim a duração do romance, num acto cru, racional e anti-romanesco, assemelha-se à sua morte prematura mas não é mais do que antever a condição efémera da larga maioria da natureza humana global e cosmopolita — para os sedentários, talvez seja outra história. Dois meses, mas quem diz dois pode até dizer um ou quatro, será o tempo ideal para aproveitar o máximo do tesão e o mínimo da complicação. A partir desse período, tudo tende a tornar-se cada vez mais «inversamente proporcional». Há, contudo, quem diga que a paixão vem com a complicação; que andam ambas de mãos dadas e sem uma a outra não existe. Nas noveletas barrocas e no Romantismo Francês talvez, mas eu pessoalmente não acredito. Pelo menos até prova em contrário.

14.4.10

family album #06

image copyright: William Eggleston; text: PDB

Doug's nephew told me and the folks that we must visit Vegas.
Good Lord, I never saw anything licentious and vicious as that.

family album #05

image copyright: William Eggleston; text: PDB

Mariah invited me for a dance session at the latin club in the Highway.
We spent the entire evening in the disco's parking lot instead.

13.4.10

family album #04

image copyright: William Eggleston; text: PDB

Bobby wanted us to make the deal at his downtown apartment.
The moment we arrived, we already knew he had fled to Reno.

family album #03

image copyright; William Eggleston; text: PDB

I left 'cause I couldn't stand Brett anymore.
A lifetime savings wasted in that stupid roulette.

11.4.10

family album #02

Image copyright: william Egleston; text by PDB

I asked the maid to iron my shirt.
I didn't want to return to Des Moines like a lousy bum.

family album #01

'Los Alamos', image copyright by William Eggleston, text by PDB

Dad was supposed to come that day. He didn't.
Mom said that he probably missed his plain.

7.4.10



Andrews não vê Laura, vê uma representação de Laura. Esta representação é simultaneamente a projecção de um ideal — Laura é perfeita em todos os seus aspectos — e de um desejo inalcançável — Laura é bela, fêmea, sedutora mas aparentemente está morta. Andrews não é por isto — e «por isto» leia-se ter um sentimento de atracção a uma imagem - um caso raro. Antes pelo contrário. Como ele, são muitas as pessoas que preferem a representação de alguém ao alguém propriamente dito; ou seja, o que «representa» e não o que «é». O duplo suplanta assim a realidade, especialmente quando esta traz por defeito ou necessidade algum aborrecimento, interesse, desprezo ou comodismo.