Depois da
onstage conversation na Cinemateca de Brooklyn em Maio passado, por altura da projecção de 'Light Sleeper' dentro da retrospectiva 'Edward Lachman, Cinematographer', foi ontem possível voltar a ouvir Paul Schrader falar sobre a sua obra cinematográfica. Desta vez, no Film Forum, Schrader não era um convidado mas sim a figura de destaque — embora na noite com Lachman, como
aqui referi, Schrader acabasse por dominar o interesse da assistência devido ao seu
peso histórico e descontracção em público.
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'Mishima, a Life in four Chapters', foi o seu filme apresentado ontem no Film Forum. Nesta colagem, dita
barroca, sobre alguns momentos da vida do escritor/dramaturgo Yukio Mishima, Schrader divide a narrativa em quatro capítulos que englobam fases da adolescência tardia até ao culminar da sua vida por
hara-kiri, consequência de uma estrondosa e fracassada tentativa de
coup d'état. Para além de fragmentos biográficos, Schrader inclui igualmente personagens literárias de Mishima que funcionam como metáforas e referências da vida do irreverente japonês. Explica que o fez pois o universo de um escritor, é —mais do que qualquer outro— o literário. Sendo os quatro capítulos de carácter temático e não cronológico, o realizador utiliza diferentes processos de registo dentro de cada um ao longo dos 120 minutos: preto e branco para o passado remoto; cores pouco saturadas e o estilo documental do
cinéma vérité para o desenrolar da acção final; cenários oníricos com cores fortes para o universo paralelo das suas personagens literárias.
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Paul Schrader revelou histórias de produção que neste filme adquirem uma dimensão
hilariante. Sendo o filme relacionado com uma figura-central do pós-guerra japonês filiada numa ideologia de ultra-direita e paralelamente homossexual, foram vários os grupos que promoveram o boicote das filmagens. Como Schrader explicou e com piada, depois de os produtores japoneses darem secretamente o dinheiro, desvincularem-se publicamente e de ficar mais do que assegurado que o filme nunca iria ser comercializado no Japão,
'Mishima, a Life in Four Chapters' foi produzido por ninguém e feito para ninguém.
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Quando confrontado com a questão de
porquê Mishima, Schrader explicou a ligação. Tendo um irmão a viver no Japão naquela altura, a aura Mishima tão presente na sociedade nipónica chegou assim também a Schrader. Mas o motivo principal foi outro. Em 'Taxi Driver', que explora entre outras coisas o
suicídio glorioso, o realizador foi acusado de
brincar com um intelecto mais fraco na criação (e motivação) da personagem Travis Bickle. Schrader encontrou em Mishima o lado oposto, um homem intelectual e culturalmente forte, politicamente activo, (aparentemente) respeitável socialmente e que apesar de todos estes "valores" não deixou de cometer o infame
suicídio glorioso.
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'Mishima, a Life in four Chapters' foi concluído em 1985 e ate à data nunca foi admitido nas salas de cinema do Japão.