'French Film Noir' (1994), de Robin Buss, começa por explicar a influência americana dos clássicos
film noir e
detective thriller na indústria cinematográfica francesa do período pós-guerra. Lembra também que essa mesma influência americana, (ou os dois géneros), foi (ou foram) anos antes fortemente moldada(os) por realizadores europeus como Hichtcock, Fritz Lang, Siodmak e Otto Preminger; a par do dramatismo visual do Expressionismo Alemão. Até aqui nada de novo. O mais interessante neste livro de Buss, que serve como uma História do
genre, está relacionado com a análise que o autor faz filme a filme. Cruza referências e motivações dos realizadores e argumentistas, reacções da crítica e do público, histórias de
plateau, e até (e porque não) trivialidades do meio. E apesar de começar com Henri-Georges Clouzot e os seus 'Salaire de la peur' (1953) e 'Les Diaboliques' (1955) circula também por outras influências que ajudaram a definir o
noir francês, como por exemplo o Realismo Poético de Renoir e de Duvivier. Seguidamente demonstra a adaptação do género — faz a clara distinção que o
noir não é um estilo — nas sucessivas correntes cinematográficas ao longo da segunda metade do século XX: do Realismo Pós-guerra, à Nouvelle Vague e ao Pós-Modernismo.
'French Film Noir' é um livro honesto, sem pretensões filosóficas de cartilha, ou como diria Zizek "leituras intelectualizadas e pseudosofisticadas que projectam sobre o filme refinadas distinções conceptuais ou psicanalíticas". Isso faz toda a diferença.