Se há coisa que não muda são pessoas, como se tem eternamente dito, mas tal como as pessoas tão-pouco mudam as
relações entre as pessoas. Ambas podem evoluir, separadamente ou em conjunto, mas a
essência de cada uma é imutável. O que geralmente acontece é que nessa evolução se tenta encontrar um «ponto de equilíbrio» que posteriormente deverá ser mantido através de um certo e particular esforço, inconsciente ou não, no qual todas as partes se digladiam mais ou menos secretamente. Estas ditas
partes serão, por exemplo numa pessoa, as deficiências de espírito e fragilidades de carácter, defeitos reconhecíveis, e a tentativa em combater, camuflar e renunciar a sua totalidade face aos padrões que aspira; humanos, morais, sociais, relacionais. Numa relação, cada
parte é naturalmente uma das pessoas que procura seguir um fio condutor, balizado pelo «ponto de equilíbrio» dela própria, que sabe não poder ultrapassar em favor de uma esperada
harmonia.
É este esforço, tido nestes parâmetros como uma
evolução pessoal, que caracteriza a posterior
evolução relacional e faz com que esta última pareça forte, próspera e consistente. Mas se há coisa que não muda são as pessoas, como se tem eternamente dito, e por isso, na sua génese, tão-pouco mudam as relações entre as pessoas. O «ponto de equilíbrio», ou a sua infinita constância, é assim uma coisa muito utópica, como uma espécie de torrezinha de Babel de nós próprios.